terça-feira, 25 de janeiro de 2005

"Convenções"

(Do livro de Luis Fernando Verissimo
"O Melhor das Comédias da Vida Privada"

A Mirtes não se aguentou e contou a Lurdes:

- Viram teu marido entrando num motel.

A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos.
Ficou assim, uma estátua de espanto, durante
um minuto, um minuto e meio. Depois pediu
detalhes. Quando? Onde? Com quem?

- Ontem. No Discretissimu's.
- Com quem? Com quem?
- Isso eu não sei.
- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de
uma perna?
- Não sei, Lu.
- O Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.

Quando o Carlos Alberto chegou em casa, a Lurdes
anunciou que iria deixá-lo. E contou por quê.

- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe
quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você.
- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir.
Discretissimu's! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda
bem que não me identificaram.
- Pois então?
-Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê?
É o que todas as amigas esperam que eu faça. Não sou
mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo
era você!
- Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito, Lurdes. Você vai desmanchar
nosso casamento por isso? Por uma convenção?
- Vou.

Mas tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa,
com as malas, o Carlos Alberto a interceptou.
Estava sombrio.

- Acabo de receber um telefonema - disse. - Era
o Dico.
- O que ele queria?
- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse
que, como meu amigo, tinha que me contar.
- O que?
- Você foi vista saindo do motel Discretissimu's
ontem, com um homem.
- O homem era você.
- Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
- O que? Para que meus amigos pensem que vou a
motel com a minha própria mulher?
- E então?
- Desculpe, Lurdes, mas...
- O que?
- Vou ter que te dar um tiro.